Se tenho uma alimentação saudável, qual a razão para ter carência de nutrientes?

Ter uma dieta rica em alimentos frescos, consumindo as doses aconselhadas de gordura, proteínas, vitaminas e minerais assegura, em princípio, uma adequada absorção dos nutrientes essenciais para o funcionamento do organismo, o desempenho das atividades de vida diária e também para suprir as necessidades específicas de quem pratica atividade desportiva.

Um dos maiores estudos sobre o estado nutricional dos alimentos na atualidade, publicado em 2004 no Journal of the American College of Nutrition1, analisou dados divulgados entre 1950 e 1999 e os pesquisadores notaram alterações em 13 nutrientes de 43 culturas diferentes, verificando, sobretudo, que os alimentos tinham menos proteínas, cálcio, fósforo, ferro e vitamina C.

Também a revista Foods2 deu a conhecer uma pesquisa que mostrou uma diminuição da composição de ferro em certos vegetais cultivados na Austrália – nomeadamente no milho doce, na batata de casca vermelha, na couve-flor, na ervilha verde e no grão-de-bico – uma redução que variava entre os 30% e os 50%.

Outro trabalho, desta feita publicado em 2020 na Scientific Reports3, mostrou que os cereais também registam um declínio nutricional. Segundo essa investigação, o teor de proteína no trigo diminuiu 23% entre 1955 e 2016 e observou-se igualmente uma redução de ferro, zinco e magnésio neste cereal

Quando se investiga as razões para o declínio de nutrientes presentes nos alimentos, a forma como se pratica a agricultura moderna é apontada como uma das principais causas para as alterações verificadas. Com o objetivo de aumentar a produção, os agricultores tentam retirar o máximo de proveito do solo, acabando por empobrecê-lo ao nível dos nutrientes que fornecem aos produtos cultivados, pois a irrigação da terra, a fertilização e colheita, o modo como este processo é realizado pelas grandes indústrias agropecuárias interrompe a cadeia de interação natural entre as plantas e os fungos do solo, que agem como extensões das raízes das plantas, reduzindo a absorção dos nutrientes provenientes da terra, como ficou claro num estudo publicado no jornal oficial da National Academy of Sciences4.

A poluição também desempenha um importante papel neste processo, com as alterações climáticas a terem um impacto significativo na composição nutricional de vários alimentos. A evidência científica tem sido cada vez mais robusta a demonstrar esta relação, da qual é exemplo o estudo publicado em 2018 na revista Science Advances5, no qual ficou claro que as concentrações de proteína, ferro, zinco e várias vitaminas diminuíram em 18 tipos de arroz, após serem expostos a níveis mais altos de dióxido de carbono.

Fontes:
1 – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15637215/
2 – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8750575/
3 – https://www.nature.com/articles/s41598-020-78504-x#Tab3
4 – https://www.pnas.org/doi/full/10.1073/pnas.1906655116
5 – https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.aaq1012

O que é o magnésio?

O magnésio é o quarto mineral mais comum no corpo humano – depois do cálcio, do sódio e do potássio – e também é o segundo catião intracelular mais comum, depois do potássio. O magnésio está envolvido em mais de 300 reações enzimáticas e é um cofator fundamental em múltiplos processos biológicos, que vão desde o metabolismo energético à síntese proteica, passando pela saúde óssea, a regulação da insulina e da glicemia, tendo, igualmente, um papel crucial na manutenção da função neuronal, muscular e na saúde cardiovascular1.

O magnésio está envolvido em processos biológicos necessários para:

  • A síntese de proteínas;
  • A regulação da melatonina;
  • A formação de colagénio;
  • A contração muscular;
  • A função neuronal;
  • O controlo da glicemia;
  • A regulação dos níveis de cálcio no organismo, juntamente com a vitamina D, cobre e zinco.

Num indivíduo de 70 kg, há uma reserva média de 25 gramas de magnésio, sendo que cerca de 53% está localizada no osso, 27% no músculo, 19% nos tecidos moles e menos de 1% no soro3. Contudo, o magnésio é um mineral e, como todos os minerais, não é produzido pelo organismo, sendo obtido através de uma alimentação variada e saudável e, quando esta não consegue fornecer os níveis necessários ao bom funcionamento do organismo, da suplementação.

As necessidades médias diárias estimadas para o consumo em adultos são de 320 mg nas mulheres e de 420 mg nos homens. No entanto, a ingestão deste mineral no dia-a-dia tem diminuído de forma progressiva nas últimas décadas, sobretudo devido ao maior consumo de alimentos processados e de refeições rápidas, a vulgarmente chamada fast-food. A título de exemplo, estima-se que mais de metade da população americana mantenha, atualmente, uma ingestão insuficiente de magnésio através da dieta alimentar.2,3

Os principais alimentos que fornecem magnésio ao organismo são os cereais integrais, os vegetais de folhas verdes, como os espinafres ou a couve, o pepino, os frutos secos, os tubérculos, nomeadamente a batata e a batata-doce, e a fruta, nomeadamente banana, abacate, pêssego, maçã, ameixa e citrinos.

Magnésio contribui para:

Magnésio contribui para:

  • redução do cansaço e da fadiga
  • equilíbrio dos eletrólitos
  • normal metabolismo produtor de energia
  • normal funcionamento do sistema nervoso
  • normal funcionamento muscular
  • síntese normal das proteínas
  • normal função psicológica
  • manutenção de dentes normais
  • processo de divisão celular

Fontes:
1 – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23674807/
2 – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5786912/
3 – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5637834/
4 – Magnesium – Health Professional Fact Sheet (nih.gov)